O pregador da Casa Pontifícia, frei Raniero Cantalamessa, conduziu a primeira pregação da tradicional série quaresmal, na Capela Redemptoris Mater, no Vaticano. Participaram deste momento o Santo Padre e alguns colaboradores da Cúria Romana.
Para esta primeira pregação de uma série de três, o sacerdote capuchinho preparou uma meditação sobre a distinção entre “lei” e “espírito” e acerca do papel do sacerdote como dispensador dos mistérios de Deus.
Frei Cantalamessa ressaltou que a “vida nova” proposta pelo Cristianismo é graça que vem de Cristo.
“Toda religião humana ou filosofia religiosa começa dizendo ao homem o que ele deve fazer para se salvar... Mas o Cristianismo não começa por dizer ao homem o que ele deve fazer, mas aquilo que Deus fez por ele. Jesus não começou a pregar dizendo: ‘Convertei-vos e crede no Evangelho para que o Reino de Deus venha até vós’; mas começou dizendo: ‘O Reino de Deus está no meio de vós’ – sem que vós o tenhais merecido, gratuitamente! – ‘convertei-vos e crede no Evangelho’. Não antes a conversão e depois a salvação, mas primeiro a salvação, o dom e depois a conversão, o dever”, afirmou Frei Cantalamessa.
“É do dom que brota a salvação e não o contrário”, reforçou ainda o pregador da Casa Pontifícia. “A lei do Espírito não é em sentido estrito aquela promulgada por Jesus no Sermão da Montanha, mas aquela que Ele gravou em nossos corações em Pentecostes”, acrescentou.
“O amor é uma lei, ‘a lei do Espírito’, no sentido que cria no cristão um dinamismo que o impulsiona a fazer tudo aquilo que Deus quer, espontaneamente, porque fez própria a vontade de Deus e ama tudo aquilo que Deus ama. Impulsiona a fazer coisas por atração e não por obrigação: e esta é a grande conquista que o povo cristão deve fazer. O cristianismo é feito para ser vivido por atração, por paixão, não por constrição”, esclareceu.
Nesse âmbito, Frei Cantalamessa prosseguiu seu discurso indicando que o sacerdote tem a tarefa de “ajudar os irmãos a viver a novidade da graça”, a perceber que o cristianismo não é uma doutrina, mas uma Pessoa, descobrindo a beleza infinita de Cristo, as maravilhas do Espírito. Mas uma das dificuldades é que o homem de hoje crê que sua salvação dependa exclusivamente de si:
“Salvar-se ‘por graça’ significa reconhecer a dependência de alguém e isto parece ser a coisa mais difícil. É a explicação que São Bernardo dá sobre o pecado de Satanás: ele preferiu ser a mais infeliz das criaturas por mérito próprio, ao invés de ser a mais feliz por graça de outro; preferiu ser ‘infeliz, mas soberano, ao invés de ser feliz, mas dependente’... A rejeição ao Cristianismo, praticada em alguns níveis de nossa cultura ocidental, quando não é rejeição à Igreja e ao cristãos, é rejeição da graça”, concluiu.
Da Redação, com Rádio Vaticano
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