terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Batalha Vencida

A nossa querida Bellinha saiu em uma reportagem no Estado de Minas. Confira!

BATALHA VENCIDA
Lição de vida
Flávia Ayer

Designada por acaso para atender alunos com deficiência, professora de artes tem bebê com síndrome de down e assume comando de associação. Filha se torna um exemplo para todos


Presidente da Família Down, Luzia Zolini diz ter aprendido muito com Isabella, inclusive a seguir

Há histórias que parecem nascer de trás para a frente, porque dessa forma, ao avesso, ganham mais sentido. A professora Luzia Zolini, de 56 anos, mãe de Isabella, de 23, é protagonista de um desses enredos e comprova que percalços da vida podem ser, na verdade, sinais de transformação. Antes de ver os olhinhos puxados de Bella, a caçula e xodó da família de três filhos, não imaginava ter de enfrentar dentro de casa o desafio da Síndrome de Down. Mas, sem saber, preparou-se para a empreitada. Quatro anos antes, num concurso para professora de artes da rede estadual, foi designada, por acaso, para uma escola de alunos com deficiência mental. Perto do dia de Isabella nascer, uma mulher desesperada, mãe de um filho down, foi à casa de Luzia, por engano, em busca de informações sobre o distúrbio genético.

Mas nenhum desses sinais seriam suficientes para enfrentar a situação sem a coragem de Luzia e o sorriso manhoso de Bella. Essa combinação levou a dupla longe. Além de estudante, Isabella é hoje bailarina, secretária na Câmara Municipal, voluntária na Paróquia Nossa Senhora Mãe da Igreja, no Bairro Vila Paris, na Região Centro-Sul de BH, além de moradora famosa de BH. “Você não conhece a Bella?”, pergunta a mãe coruja a quem indaga sobre a garota. Já Luzia, que já esteve à frente do Conselho Municipal da Pessoa Portadora de Deficiência, é presidente da Família Down, associação de pais e amigos dos portadores da Síndrome de Down.

A professora também é uma das fundadoras da entidade, criada em 1987, para defender os direitos dos portadores e divulgar informações sobre a alteração genética – a próxima palestra, dia 6, abordará a nutrição. Com mais de 1,5 mil famílias acolhidas, o atual desafio é a construção de um centro de convivência voltado para pessoas com o distúrbio e aberto a toda a comunidade. O endereço já é batalha vencida, com a doação pela prefeitura de um lote no Bairro Planalto, na Região Norte de BH, há seis anos. Em março, haverá festa de inauguração do muro do terreno, onde será cultivada uma horta comunitária. A luta agora é para ver as paredes do centro subirem. E não duvide que isso vá acontecer, pois esse é apenas mais um obstáculo para Luzia.

APOIO No universo das pessoas com necessidades especiais, o primeiro deles foi dar aulas na Escola Estadual Dona Argentina Vianna Castello Branco, que atende alunos com deficiência múltipla. “Saí do meu emprego antigo porque queria ficar mais tempo com o Rogério Júnior, meu filho mais velho. Fiz o concurso para dar aulas de 5ª a 8ª série e acabei sendo selecionada para turmas de 1ª a 4ª numa escola especial. Assustei-me demais, porque os meninos eram muito levados e a minha formação não era para educação especial. Ameacei deixar a escola”, conta. Com o apoio do marido, Rogério Zolini, de 53, Luzia não só continuou como se tornou diretora da instituição de ensino, na qual Isabella também estudou. Entre os trunfos, carrega a instalação de um mobiliário mais anatômico e o aperfeiçoamento da didática de ensino.

Com o nascimento da filha down, a palavra de ordem dentro de casa passou a ser inclusão e, mais que uma família qualquer, os Zolini se tornaram parte da Família Down. “Meus filhos, o Rogério Júnior, de 29, e o Leandro, de 25, não haviam percebido que a caçula tinha a síndrome. Disse a eles sobre a dificuldade da Bella, mas que ajudaríamos ela a vencer”, lembra a matriarca. E que vitória. Esbanjando simpatia, Bella se desdobra em rotina atribulada: dança, estuda e nada. Também passa a tarde trabalhando como telefonista no gabinete do vereador Leonardo Mattos (PV).

Nas mãos, o fruto de sua limitada, mas suada independência. “Comprei o celular com meu dinheiro”, conta Bella, que cultiva a conversa ao telefone como uma de suas paixões. O pai é, de longe, a maior delas, além da igreja, onde ajuda na preparação de fiéis para a crisma. Acredite: ela é capaz de converter qualquer um com poucas palavras, experiência de repórter. À mãe, só resta agradecer pelos sinais da vida e, principalmente, à Bella. “Hoje, com a maturidade, tenho certeza de que Deus me sinalizou a chegada da Bella. Ela me aproximou da igreja, me ensinou a apreciar pequenas coisas, a elogiar as pessoas e ter um ritmo mais desacelerado. Era muito mais fácil se vestisse a minha filha do que esperar que ela mesmo o faça”, confessa Luzia, emocionada.

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